Um novo ainda mais novo

Você já ouviu falar em kintsugi?

Se trata de uma técnica centenária japonesa de reparar peças cerâmicas quebradas. A técnica consiste em utilizar laca com pó de ouro a fim de juntar novamente os cacos da peça danificada. Ocorre que , inevitavelmente, a peça reparada acaba levando em sua estrutura as cicatrizes do reparo. A peça não é uma peça nova, mas desgastada com o tempo, e por conta dos traumas sofridos, exige as marcas de uma nova estética e não os esconde. Muitas dessas peças se tornam mais valorizadas que antes de terem passado por essa técnica.

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É possível vislumbrar, facilmente, a filosofia do kintsugi em nossa vida. Ao longo do tempo conhecemos fracassos, perdas, frustrações, desenganos, decepções, e assim por diante. A exemplo da peça cerâmica, ficamos ‘em cacos’ por dentro. Há tantos fragmentos de nós mesmos em nosso interior que mal conseguimos nos sentir… Tantas dores.

Infelizmente, muitos preferem maquiar suas dores e as escondem, tentando manter a aparência perfeita, uma aparência inabalável, que não fora atingida, que não aconteceu nada, que está bem. Tristemente, somos pressionados pela sociedade a mostrarmos uma vida plena, feliz e perfeita – o sentido da vida consiste no sucesso, na perfeição, na glória, no consumismo, etc.

Lamento dizer, somos vulneráveis. Sofremos… sofremos e sofremos sim. Há sofrimentos físicos, sofrimentos psíquicos, sofrimentos emocionais… Esconder ou mascarar isso é sua própria desilusão. Alguns filósofos afirmam que somos aquilo que é nossa memória. Uma pessoa que perde sua memória não sabe mais quem é. Assumir as dores do interior é o primeiro passo da técnica kintsugi aplicada à nossa vida. Aliada à memória podemos contar com a imaginação, a senhora criatividade – ela nos concede uma infinidade de possibilidades para a nossa realidade, principalmente mediante as adversidades.

Na técnica kintsugi o tempo de secagem é um fator determinante. A resina de laca com pó de ouro pode levar semanas (até meses) para endurecer, garantindo a coesão e durabilidade. Assim, o processo de maturação em nós demanda tempo… tempo esse que exige paciência – infelizmente, vivemos tão afobados, sem tempo para respirar direito – vivemos sem paciência.

Precisamos lembrar que, por maiores que sejam as fraturas em nossa alma, é possível sim, restabelecê-la – e para um estado melhor que o anterior, exibindo as cicatrizes de ouro carregadas em nossa história. Não há uma dor, por maior que seja, que tenha o poder de destruir uma alma humana – é possível a restauração.

Você é incrível: acredite nisso!!!

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